sexta-feira, 25 de março de 2011

Rubro

De dentro pra fora, minha alma reluz. Vermelho.
Sem direito a impasse, sem direito a desordem, sem direito a lamúrias.
De fora pra dentro, nos toques, nos olhares, a boca se repuxa deformando o rosto numa careta, meu coração acelera.
O desejo e a culpa, o querer e o repugnar. Enquanto meus olhos fecham, eu quero um palpitar mais forte.
As mãos molhadas, o lamber dos dedos, olhando na minha cara. O revirar dos olhos. Me faz querer sumir.
Quando alivia minhas tensões eu só quero morrer. E quero matar.
Ver o sangue escorrer por meus braços, o pingar rasgar minha mente e paciência pra fora da cama.
Enxergar o nada e ouvir os últimos suspiros... O cheiro das entranhas no ar.
Lembro que as minhas entranhas continuam lá, e que a ninguém as pertence. A desgraça rubra, branda e eficaz... Sinto frio na minha pele desnuda.
A água não cessa, escorre... Preciso enxugá-la, não deixar vestígios e não me odiar ainda mais.
O único lugar que ninguém ousou ir, agora violado, violentado, invadido... Não é de se respeitar. Nunca mais.
O lugar onde cresci, vivi, mudei tantas vezes de opinião, onde não há mais rastros meus. E quando ousar voltar, vai doer. E doer. E doer.
Saio na rua perdida. Não lembro o caminho de volta.
Ninguém sentirá minha falta, peço aos céus.
E em uma viela qualquer, reencontro meu destino, minha sina. Acostumo-me com a idéia de que será melhor assim todos os dias. Será melhor que eu não lembre de nada.

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